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- 1. A acusação inicial: um romance de seis anos, desde os 15 anos de idade?
- 2. As fotografias: "provas"... na realidade, tiradas depois de ela ter atingido a maioridade
- 3. 27 de março: a conferência que fez virar cabeças
- 4. O KakaoTalk de 2018: o verdadeiro, mas recontextualizado e misturado
- 5. Quando a família de Kim Sae-ron contradiz a história de Gaseyeon
- 6. "Não se trata de justiça, trata-se de dinheiro".
- 7. Meios de comunicação tradicionais: retransmissores passivos ou co-responsáveis?
- 8. O impacto em Kim Soo-hyun: "Não se trata apenas de uma interrupção na carreira".
- 9. O paralelo com Kim Sae-ron: a espiral mediática de ambos os lados
- 10. Um sistema que pouco faz para punir os ciberdestruidores
- 11. Plataformas e política: respostas ainda hesitantes
- 12. "É altura de olhar para os direitos humanos dos artistas".
- Quem protege os seres humanos por detrás dos ecrãs?
Em 27 de novembro de 2025, o advogado de Kim Soo-hyun deu uma entrevista ao jornalista Park Jae-ryeong para o jornal Media Today (fonte no final do nosso artigo). Nesta entrevista, analisa passo a passo o caso que abala o ator e a sua comitiva há quase 9 meses e como tudo começou com fotografias e conversas maliciosamente manipuladas. Faz uma pergunta inquietante: e se tudo isto fosse menos um escândalo privado do que um colapso coletivo, mediático, jurídico e ético?

Em 27 de março de 2025, uma conferência de imprensa organizada pelo canal YouTube Instituto de Investigação Garosero (frequentemente abreviado para Gaseyeon) está a fazer furor nos noticiários coreanos. No ecrã, fotos, capturas do KakaoTalk, uma mulher apresentada como tia da falecida atriz Kim Sae-rone, sobretudo, uma pesada acusação: o ator Kim Soo-hyun teve uma relação com ela quando ela era menor de idade. Nos minutos que se seguiram, várias grandes cadeias de televisão transmitiram a conferência em direto.
9 meses depois, o caso está longe de estar encerrado, mas a verdade está a vir ao de cima e levanta questões sobre todo um sistema mediático e social.
1. A acusação inicial: um romance de seis anos, desde os 15 anos de idade?
A jornalista começa por voltar ao cerne das acusações: a 10 de março, Gaseyeon afirmou que Kim Soo-hyun e Kim Sae-ron tinham sido um casal. de 2015 a 2021. Em 2015, ela teria 15 anos e ele 27.
No dia seguinte, uma primeira foto do "beijo na bochecha foi publicada, alegando ter sido tirada quando ela estava no terceiro ano do ensino secundário. Os meios de comunicação social seguiram-se com artigos, verificações grosseiras e títulos afirmando que se tratava de "fotografias de quando era menor".
Quando questionado sobre este facto, Ko Sang-rok explica que havia uma intenção clara desde o início do programa:
"Se vir a emissão de 11 de março, Kim Se-ui é deliberadamente vago quanto à data da fotografia. Ele diz qualquer coisa como: "Não sabemos exatamente quando é que esta fotografia foi tirada". E logo a seguir, a pessoa apresentada como tia de Kim Sae-ron intervém: "No texto que ela escreveu, diz 2016". Está tudo lá: nunca dizemos claramente "foi quando ela estava no nono ano", mas criámos este enquadramento. É uma construção. Desenha-se um quadro: menorE estamos a receber tudo.
2. As fotografias: "provas"... na realidade, tiradas depois de ela ter atingido a maioridade
O jornalista perguntou-lhe então: Estas fotografias foram realmente tiradas quando Kim Sae-ron era menor de idade?
Kho Sang-rock: "Temos a fotografia original, bem como as fotografias tiradas imediatamente antes e depois. Graças aos números dos ficheiros e aos metadados, conseguimos confirmar que a fotografia data de final de fevereiro de 2020. Explicámos isto em pormenor à polícia. As autoridades reconheceram esta cronologia. E sobre este ponto preciso, a parte contrária já não contesta.
O jornalista perguntou-lhe então sobre a segunda fotografia do "beijo na bochecha", revelada a 13 de março, que também teria sido tirada quando ela estava na universidade. Mais uma vez, a mesma resposta: "Esta fotografia também foi verificada. Não é da altura em que ela era uma minoria. Na realidade, se considerarmos todas as fotografias tornadas públicas por Gaseyeon, todas elas foram tiradas após 2019Isto aconteceu numa altura em que Kim Sae-ron já era maior de idade. Afirmámo-lo sistematicamente desde o início. Até à data, a Gaseyeon não apresentou qualquer refutação exacta destas datas.
Por outras palavras, o cerne da história (fotografias que supostamente provam um romance ilegal com uma rapariga menor de idade) baseia-se, segundo a defesa, numa simples manipulação: fazer crer às pessoas que as fotografias tiradas quando eram adultos são recordações do liceu.
3. 27 de março: a conferência que fez virar cabeças
Em 27 de março, Gaseyeon deu um passo em frente: juntamente com um membro da família do falecido, organizaram uma conferência de imprensa. No centro da encenação: capturas de ecrã de uma conversa no KakaoTalk que supostamente remontava a junho de 2016.
Nestas imagens, podemos ler expressões muito íntimas, corações, um tom que sugere uma relação de casal. Vários meios de comunicação social chegaram ao ponto de afirmar que "KakaoTalk entre um ator adulto e uma rapariga de 17 anos". foram revelados.
O jornalista faz a pergunta que está na boca de toda a gente: "Perante uma conferência de imprensa como esta, com alguém apresentado como sendo a família, com fotografias e um perfil com o nome de Kim Soo-hyun, quem poderia imaginar que se tratava de documentos manipulados?
Ko Sang-rok responde sem rodeios: "O facto de haver um perfil com o seu nome e fotografia não significa que o ator seja o autor. Neste caso específico, a pessoa que está a conversar com Kim Sae-ron não é Kim Soo-hyun. Em primeiro lugar, se verificarmos a agenda do ator na altura, é impossível que ele tenha trocado este tipo de mensagens nestas condições. Em segundo lugar, a fotografia de perfil utilizada nesta conta não corresponde a 2016: é uma fotografia tirada em 2020."
Revela também um aspeto muito importante do procedimento:
"A polícia solicitou oficialmente que o ficheiros originais do KakaoTalk datado de junho de 2016. A parte contrária nunca forneceu quaisquer dados em bruto. Apenas forneceu impressões em papel. Até à data, não conseguiram entregar o original. Isto levanta questões.
4. O KakaoTalk de 2018: o verdadeiro, mas recontextualizado e misturado
O jornalista segue com outro conjunto de mensagens, reveladas por Gaseyeon a 28 de março: desta vez, em 2018, com uma selfie enviada pelo próprio Kim Soo-hyun. Aqui, parece haver menos dúvidas: é mesmo ele na fotografia. "Parte desta conversa é genuína. Nunca a contestámos. Na altura, Kim Soo-hyun estava a cumprir o serviço militar e enviou uma mensagem a dizer que tinha pouco tempo durante a sua licença e que lamentava não a poder ver. É uma troca possível entre duas pessoas que são próximas. Sim, o tom é caloroso, há emojis e corações. Mas um tom caloroso entre duas pessoas que se dão bem não prova uma relação amorosa no sentido em que Gaseyeon a entende".
Quando a defesa fala de manuseamentoNeste bloco de mensagens, algumas passagens foram efetivamente enviadas por Kim Soo-hyun, enquanto outras não o foram. "Neste bloco de mensagens, algumas passagens foram efetivamente enviadas por Kim Soo-hyun, outras não. Por exemplo, é-lhe atribuída uma mensagem de 2 de abril de 2018 do tipo: "Quero ver-te agora", numa dinâmica muito "casal". No entanto, nesse dia, encontrava-se em missão na DMZ, sem acesso ao telemóvel.
Estamos, portanto, perante uma construção: pegamos em fragmentos reais, inserimos passagens inventadas e, no final, apresentamos o conjunto como uma conversa contínua.
5. Quando a família de Kim Sae-ron contradiz a história de Gaseyeon
Outra passagem da entrevista lança uma luz importante sobre o papel da família de Kim Sae-ron e a forma como a sua posição foi alegadamente utilizada.
Ko Sang-rok explica que durante a preparação de um programa para a SBS ("궁금한 이야기 Y" / Curious Story Y), o representante legal da família do falecido adoptou uma posição muito diferente da apresentada nos vídeos do YouTube: "O advogado dos familiares de Kim Sae-ron disse à equipa da SBS que a família não tinha nunca diz à Gaseyeon: "Estas são fotografias de quando ela era menor". Por outras palavras, a referência a "fotos de quando ela era menor" vem da Gaseyeon. É uma interpretação que eles próprios acrescentaram".
Segundo Ko, esta contradição teve uma consequência direta: o relatório da SBS foi interrompido. "O programa está suspenso. Estávamos num contexto em que se aproximavam os resultados da investigação policial e nem nós nem o canal queríamos dar a impressão de criar uma nova controvérsia."
6. "Não se trata de justiça, trata-se de dinheiro".
O jornalista perguntou-lhe então quais eram os motivos da Gaseyeon. Oficialmente, o canal disse que queria "para defender a memória do falecido. O advogado opõe-se frontalmente a este facto:
"Como é que se pode dizer que é para o bem da falecida quando, na realidade, se está a espezinhar a sua dignidade? A partir do momento em que se fazem falsas acusações, a parte acusada é obrigada a defender-se. E, nesse processo, são expostos elementos do passado da pessoa falecida que o público não tinha necessidade de conhecer. É o oposto da proteção.
Para ele, a verdadeira mecânica é muito mais trivial: "Sejamos claros: é uma questão de lucro. Quanto mais chocante for o conteúdo, mais subscritores atrai e mais donativos e receitas gera. É um modelo de negócio baseado na exploração de tragédias humanas.
7. Meios de comunicação tradicionais: retransmissores passivos ou co-responsáveis?
O advogado sublinha igualmente o papel decisivo dos meios de comunicação social tradicionais:
"Se os vídeos da Gaseyeon tivessem contado a história, muitas pessoas teriam duvidado. Teriam dito para si próprias: "Talvez seja exagerado, talvez seja encenado". O problema é que as grandes cadeias de televisão, os meios de comunicação social em geral, pegaram nestas acusações como se fossem bem fundamentadas. Vimos manchetes a afirmar que a "relação com um menor" era um facto. O impacto foi imenso.
Insiste naquilo que, na sua opinião, teria sido suficiente para evitar o colapso: "Se o discurso dominante nos media tivesse sido: 'Vamos esperar pelos resultados da investigação policial', não estaríamos onde estamos hoje.

8. O impacto em Kim Soo-hyun: "Não se trata apenas de uma interrupção na carreira".
Quando questionado sobre a vida do ator, Ko Sang-rok dá a entender que o nível de sofrimento é muito mais profundo do que o público imagina. "Quando ouvimos Kim Soo-hyun falar sobre o que passou, pensamos que talvez ele não tenha sobrevivido a esse período.
Algumas pessoas dizem: "De qualquer forma, ele é rico, vai voltar mais tarde, a sua carreira vai arrancar de novo". Mas as pessoas não se apercebem do que significa estar no centro de uma tal campanha, quando o seu nome é associado a palavras como "menor de idade", "crime", "escândalo" em todas as plataformas. Não se trata apenas de uma interrupção na carreira. É uma experiência que quebra um ser humano".
Também fala sobre a família: "A raiva das pessoas que lhe são próximas em relação a Gaseyeon é imensa. Viram alguém que amam desmoronar-se. Esse tipo de dor nunca desaparece".
9. O paralelo com Kim Sae-ron: a espiral mediática de ambos os lados
"O que é irónico é que o falecido Kim Sae-ron também sofreu muito durante o seu período de reflexão após o seu acidente causado pelo álcool, uma vez que os meios de comunicação social de celebridades relataram em pormenor acontecimentos que, à primeira vista, tinham pouco interesse jornalístico, como as suas saídas com os amigos. Não podemos deixar de pensar que os críticos não estão a visar as pessoas certas.
As celebridades encontram-se numa posição muito vulnerável. Não é uma questão de ganharem muito dinheiro ou não. Pergunto-me se é aceitável aplicar às celebridades padrões morais que nem sequer esperamos dos políticos ou dos altos funcionários públicos, e atirá-los para o abismo à mínima oportunidade, sem nos preocuparmos com o valor noticioso da informação ou em verificá-la com exatidão, sem nos preocuparmos com o sofrimento da pessoa em causa, quer ela morra ou não.
Não sei se a cultura popular coreana, que não tem qualquer respeito pelos direitos fundamentais dos artistas e os considera como conteúdos a consumir, poderá continuar assim".
10. Um sistema que pouco faz para punir os ciberdestruidores
Quantos processos foram instaurados contra Gaseyeon? No domínio penal, existem 5 casos :
- a difamação no direito das redes de informação e comunicação,
- distribuição de uma fotografia tirada na esfera doméstica (Kim Soo-hyun a lavar a loiça),
- actos abrangidos pela lei sobre assédio/perseguição,
- ameaças,
- e falsas acusações (queixa falsa).
No que se refere à perseguição, já foram decretadas medidas provisórias. Esperamos que os resultados do inquérito sejam conhecidos até ao final do ano.
Direito civil : "Apresentámos um pedido de indemnização no valor de 120 mil milhões de won. Foram tomadas medidas de proteção dos bens, incluindo a casa de Kim Se-ui.
Mas, apesar disso, o advogado fala de um forte sentimento de impotência: "Vemos conteúdos difamatórios e enganosos serem difundidos repetidamente e, no entanto, os meios para os impedir continuam a ser muito limitados. As autoridades tendem a considerar que se trata de um "debate de opinião" que deve ser resolvido pela crítica pública. Mas nós já ultrapassámos essa fase. Hoje, com a IA, é muito fácil fabricar "provas". Deveria ter havido investigações mais rápidas, buscas e apreensões de equipamento desde o início. Enquanto Kim Se-ui não for detido, continuará a emitir".
11. Plataformas e política: respostas ainda hesitantes
"O YouTube contenta-se, na melhor das hipóteses, em reduzir a monetização. Mas mesmo sem receitas de publicidade, continua a ser possível receber donativos diretos ou gerar lucros indirectos através de pressões, ameaças e 'acordos' de bastidores. Enquanto a própria difusão não for interrompida, a máquina continua a funcionar".
A nível político, recorda que o Presidente pediu ao seu governo para considerar medidas contra as "fake news" motivadas pelo lucro, como a indemnizações punitivas. Várias audições parlamentares ouviram também designers que foram vítimas de ciberdestruidores. Mas, por enquanto, a realidade quotidiana das vítimas não está a mudar rapidamente.
12. "É altura de olhar para os direitos humanos dos artistas".
A entrevista termina com o que pode ser a verdadeira questão em todo este caso: não apenas a inocência de um ator, mas a forma como uma empresa trata as pessoas que expõe.
"A nossa sociedade tem sido por vezes indiferente aos danos causados às celebridades. Não há uma tendência para pensar que, pelo facto de ganharem muito dinheiro e serem famosas, devem ter de suportar esses danos? Só recentemente é que as coisas parecem estar a mudar gradualmente. No estrangeiro, esta tendência para condenar as pessoas de acordo com critérios rigorosos e, depois, perder completamente o interesse pelo seu destino, também é motivo de preocupação. É altura de olhar para os direitos humanos dos artistas populares.
É aqui que o caso de Kim Soo-hyun vai para além de um simples "escândalo de celebridades".
Quem protege os seres humanos por detrás dos ecrãs?
Todo este caso levanta questões que os fãs de Kpop e Kdramas conhecem demasiado bem sobre as suas celebridades favoritas:
- Até onde podemos ir na monitorização e dissecação da vida privada de um ator?
- Porque é que toleramos a violência contra estrelas que nunca aceitaríamos contra alguém próximo de nós?
- Quem é responsável quando uma mentira é amplificada pelo algoritmo, pelos canais de televisão e pelos comentários em linha?
Aqui somos confrontados com uma falha do sistema Falha no controlo dos meios de comunicação social, falha na regulação das plataformas, falha na empatia social.

Obrigado, excelente artigo! Lutar contra o KSH!